Acabo de me mudar para a maior cidade da América Latina, mas parece que mudei para alguma cidade de interior com menos de 300 habitantes, onde qualquer mudança, novidade ou pessoa nova é vista com olhos arregalados e coceiras na cabeça. E é exatamente assim que estão tratando as "novidades" de Haddad.
Não tenho a pretensão de fazer propaganda política, não sou anti-PT ou anti-PSDB. Eu sou a favor de mudanças e avanços para a população num todo, e acredito que aquele "ordem e progresso" escrito na nossa bandeira deveria fazer algum sentido.
Numa cidade que grande parte da população enxerga o vermelho como propaganda comunista do PT, fiquei admirada em ver que elegeram um prefeito justamente de tal partido. Prestem atenção porque é aqui que começa a série de controversas que me deixam agoniada.
Junho de 2013 - não é só por 20 centavos. O gigante acordou. A população vai as ruas contra o aumento da tarifa do transporte público, mas também reclamam sobre a qualidade do mesmo e aproveitando a deixa, reclamam sobre tudo: educação, saúde, segurança, impostos, corrupção e pelo fato do Brasil ser o Brasil e não os EUA. Então o governo se mobiliza (claro que com medo de uma revolução do povo) e não aumenta a tarifa. O nosso prefeito vai lá e implementa faixas exclusivas de ônibus em vários pontos da cidade.
"MAS O QUEEEE????? Quem esse cara que pensa que é para tirar o meu espaço de carro para dar pra ônibus! Como ele ousa fazer que eu fique mais tempo parado no trânsito dentro do meu carro super confortável enquanto posso ter um ar frio/condicionado no meu rosto e ouvir minha música preferida na rádio e responder meus amigos pelo whatsapp? Deixem que os outros se ferrem mesmo, feito sardinhas no ônibus! Já não aumentaram a tarifa, ainda querem dar espaço para os ônibus? Imagina na copa! #revoltada."
Aposto que alguém deve ter visto algo parecido, claro. Sem contar a revolta dos motoristas de táxi por não poderem usar a faixa que é ~exclusiva!~ para os ônibus. Semanas antes de um dos maiores eventos esportivos do mundo acontecer no Brasil, metroviários fazem greve e motoristas de ônibus também. O Estado vai lá e aplica multa e quem fizer protesto anti-copa é preso por terrorismo. Mas a culpa cai somente no governo municipal, já que o vermelho é a cor do comunismo.
Agora a revolta é sobre as ciclofaixas. Pessoas afirmam bicicleta não é meio de transporte, deputado estadual afirma que a cor vermelha é propaganda eleitoral do tal partido e moradores e comerciantes de bairros nobres ficam indignados pela implantação de ciclovias ~mal planejadas~ em ruas da cidade.
Claro que era de se esperar esse espanto todo quando se fala de coletividade em SP. Ainda mais quando temos o objeto "carro" no meio. Desde que me conheço por gente, o governo federal dá incentivos e mais incentivos para a produção e compra de carros no Brasil, indústria que praticamente move o mundo. Na lista de sonho de consumo brasileiro, o carro aparece na frente da casa própria.
Num período onde a seca é a pior nos últimos 70 anos, a prioridade em SP ainda é o carro. Ainda é o individual. Ainda é pela burguesia que não se importa com mais nada além do próprio umbigo. Ainda é a síndrome de vira-latas pois muitos paulistas amam afirmar que SP não é Amsterdã.
Com tudo isso, acredito ter uma resposta ao caos político que vemos todos os dias em Brasília. Enquanto as pessoas ainda se preocupam mais consigo mesmas do que com o ambiente coletivo, principalmente na cidade de maior economia do país, como vamos cobrar que nossos políticos sejam diferentes? Reclamamos do trânsito, mas não nos abrimos para as soluções apresentadas, não queremos deixar o conforto do carro onde estamos sozinhos e ao mesmo tempo não queremos ônibus invadindo as ruas com dezenas de pessoas dentro e bicicletas transitando com segurança em nossas ruas.
E no momento que escrevo esse desabafo, há um caos na região central dessa cidade individual. Preferem dar o direito a uma pessoa de possuir um imóvel do que dar moradia para cerca de 800 pessoas de um prédio velho e abandonado a base de bombas e tiros...
Pra mim, fica claro, o inconsciente coletivo em SP é que não há espaço para a coletividade.
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